A guerra dos sexos chegou ao fim?

Author: Arthur /

Viver debaixo do mesmo tecto sem ter a impressão de estar com um estranho ou inimigo ao lado é possível. María Jesús Álava Reyes, psicóloga, explica que a felicidade conjugal é uma questão de atitude.



María Jesús Álava Reyes, a psicóloga madrilena autora do livro Nem as Mulheres são tão Complicadas nem os Homens tão Simples (A Esfera dos Livros), desvenda os bastidores da sua prática clínica, onde se revelam os dilemas que atormentam os sexos.
O título do livro sugere que a guerra dos sexos pode ter fim. Como estão a responder os leitores?
Maria Jesús Álaya Reys - Eles parecem mais entusiastas do que elas! Revêem-se nos exemplos, na tendência para fazer, no espírito prático. Elas não complicam, expressam-se é de modo diferente, analisam mais. E se estes atributos forem vistos como qualidades, estamos a falar de um equilíbrio perfeito entre uns e outros.
O que é que está a precisar de restauro na convivência a dois?
MJR - Os homens precisam de escutar mais e partilharem tarefas em casa. As mulheres precisam de refilar menos. E evitarem controlar a relação e tratar o parceiro como se fosse uma criança. Quando se sentem vítimas, têm comportamentos destrutivos, atiram à cara do outro o que está mal, repreendem, quais justiceiras da razão. E ninguém tem toda a razão do seu lado.
Quando é que uma relação não tem remédio?
MJR - Quando elas se sentem pouco amadas e vivem a relação como um fracasso mas agarram-se a ela, mesmo quando o companheiro as desvaloriza, não faz amor com elas e anda com uma terceira pessoa.
Quando se partilha casa, comida e cama, é conjugalmente correcto dizer sempre ao outro a verdade?
MJR - Há pessoas que levam esse princípio à prática de forma absolutamente questionável e até cruel. Nem tudo o que pensamos está certo e podemos dizê-lo, só porque nos apetece ou tranquiliza.
Verdades como “Gosto muito de ti, mas também da Maria e da Luísa”, podem ser bélicas?
MJR - No amor é preciso generosidade. Se a pessoa não está disposta a ser generosa, é preferível que não se comprometa numa relação afectiva, pois vai fracassar. Amar não é fazer promessas como “nunca te enganarei”, é fazer cedências. E lidar com acidentes de percurso sem culpabilizar.
É mais difícil terminar uma relação que mantê-la?
MJR - O casal é uma equipa, pode ser construtiva ou destrutiva. Quando há respeito e carinho de parte a parte, o empenho compensa. Mas se um já não está interessado no outro, não tem em conta o que ele pensa, impõe critérios e conclui as conversas com “o problema é teu”, pôr-lhe fim é desejável, apesar de difícil.
Nos casos em que existe violência doméstica, por exemplo.
MJR - Conseguir terminar uma relação doentia em que há um que subjuga o outro é uma vitória. A ajuda passa por fazer com que o cônjuge dependente ganhe segurança suficiente para cortar com um vínculo que é, na essência, vexatório.
E o que é o amor real?
MJR - Querer estar a toda a hora com alguém, fazer amor todos os dias, isso não é amor. Amar é admirar alguém que tem os valores que consideramos fundamentais na nossa vida. Isso percebe-se facilmente: a gente sente-se querida pelo nosso valor, reconhece a honestidade e confiança que deposita no parceiro.
Como evitar as minas e armadilhas da vida privada?
MJR - A rotina é terrível. As relações conjugais são mais exigentes do que as de trabalho, amizade e entre pais e filhos. A eles não se pede o que se exige ao parceiro. Nada está conquistado. Implica tempo e dedicação. Quem passa mais tempo em frente da televisão ou do computador do que com a pessoa que está lá em casa, não pode esperar milagres.
O que levar na bagagem quando se entra num compromisso?
MJR - O casal fechado em si mesmo empobrece. Somos seres únicos e merecemos ser tratados como tal: é um erro procurar mudar o outro, como é um erro ceder no que é para nós fundamental. Cada um deve continuar a ser quem é, cultivar um espaço próprio, ter tempo para os amigos. Os casais felizes vêem no outro alguém que querem bem, não aquele que lhes deve alguma coisa.
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